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A Construção e Desconstrução do Vínculo Afetivo

  • Foto do escritor: saudepsicofisica
    saudepsicofisica
  • 5 de nov. de 2021
  • 4 min de leitura

“(...) se a mãe não souber ver no filho recém-nascido um ser humano, haverá poucas probabilidades de que a saúde mental seja alicerçada com uma solidez tal que a criança, em sua vida posterior, possa ostentar uma personalidade rica e estável, suscetível não só de adaptar-se ao mundo, mas também de participar de um mundo que exige adaptação.” Winnicott (2008, p.118)

Diversos autores contemporâneos como: Brazelton (1988), Schermann et al (1994), Schaffer (1996), Wendland-Carro et al (1999), Klaus& Kennell (2000), Claussen & Crittrnden (2000), relatam que os recém-nascidos em seus primeiros minutos de vida, já interagem com seus cuidadores. (BRUM e SCHERMANN, 2004, p.459).

“(...) é a partir dessa interação afetiva mãe-bebê que se constitui as primeiras representações mentais do recém nascidos, sendo a mãe considerada uma figura de apego, pois é quem através do seu contato, satisfaz a necessidade social primária do bebê. É na identificação primária que a criança estabelece sua condição de ser, de existir.” Bowlby (1981 apud HECHT e SILVA, 2009, p.03).

A partir das primeiras experiências, a criança inicia um projeto interno na construção do apego, que irá continuar se desenvolvendo ao longo da vida, servindo como base para os relacionamentos íntimos futuros e também influenciando nas interações interpessoais significativas. (DALBEM e DELL’AGLIO, 2005, s/p.).

Para Goos (2010, p.23), em um desenvolvimento saudável a criança necessitará de amor, dedicação, atenção, um lar estável, atitudes consistentes, com rotinas diárias, que contribuirão juntamente com o convívio familiar para a construção da personalidade com uma base sólida.

A convivência familiar proporciona para a criança a percepção das “figuras de apego”. Para Bowlby (2002 apud CUNEO, 2012), a interação adulto-criança, através de estímulos exploratórios do ambiente, visuais, auditivos, táteis, aprendizado de normas, valores e condutas sociais, desde o nascimento até os seis anos de idade, constroem um apego seguro, desenvolvendo competências, confiança e um modelo positivo para relacionamentos pessoais e sociais. (p.420-421).

Diante da importância dos vínculos familiares no desenvolvimento de crianças, quando estas estão em situação de risco, sofrendo violação de seus direitos, surge a necessidade de uma intervenção por parte do Poder Público. Esse tipo de intervenção requer um trabalho cuidadoso e minucioso, por parte do profissional de Psicologia, antes de cumprir as medidas legais, que levarão à destituição do poder familiar.

“Prevenção ao rompimento dos vínculos familiares, na qualificação do atendimento dos serviços de acolhimento e no investimento para o retorno ao convívio com a família de origem. Somente se forem esgotadas todas as possibilidades para essas ações, deve-se utilizar o recurso de encaminhamento para a família substituta.” Souza, Barros e Zampaulo (2011, p.07).

O afastamento da criança de sua família original desencadeia vários acontecimentos, que influenciarão em menor ou maior grau na vida futura desses indivíduos.

Ao chegarem às instituições, abrigos ou casas provisórias, essas crianças têm suas necessidades emocionais e físicas básicas, deixadas para segundo plano. Mesmo que esses locais sejam bem estruturados e tentem recriar um ambiente familiar, ainda assim, faltará o convívio individualizado, afetuoso, sentimentos de cumplicidade e intimidade.

Segundo Cuneo (2012, p. 430), crianças que permanecem em instituições por mais de um ano, podem desenvolver padrões de apego inseguro, devido à ausência de uma figura significativa em sua vida, um medo intenso de perda, enfraquecendo gradualmente os vínculos familiares e um fortalecimento na crença de que a instituição é um referencial, desenvolvendo uma identidade institucional.

Para autora citada acima, crianças em situação de abrigo constroem laços afetivos, apegos sociais tardiamente, inconsistentes e frágeis; além da falta de confiança no outro, medo, insegurança pessoal, devido às necessidades específicas para cada faixa de idade, rotatividade de cuidadores, processo educacional, transferência para outra instituição; acarretando marcas profundas e dolorosas, que se não forem elaboradas poderão permanecer pela vida toda. CUNEO, 2012, p.423)

Já Brito & Koller relatam:

“(...) consideram que o abrigo desempenha uma função de rede de apoio social e afetivo, assim como a família. A rede de apoio afetivo, sendo formada por relações sociais próximas e significativas, auxilia o indivíduo a desenvolver a capacidade para enfrentar situações adversas e o estresse, já que propicia o aumento da competência, reforça o senso de pertencimento, dignidade, fortalecendo a imagem pessoal e promovendo o senso de auto eficácia.”(1999 apud MORÉ & SPERANCETTA, 2010, p.520).

Levando em consideração que o Poder Público e as instituições formam uma rede de apoio para suprir as necessidades básicas dessas crianças, buscando cumprir os direitos destas, quando surge a perspectiva de adoção, se faz necessário um trabalho de preparação dessa criança para um novo lar, uma nova família, um novo vínculo afetivo.

“(...) entendem que as mediações produzidas no contexto em que a criança está inserida são fatores altamente significativos para a construção da vinculação afetiva. As autoras percebem uma enorme disponibilidade da criança abrigada para estabelecer novos vínculos, apesar de, em um primeiro momento, uma desconfiança fazer-se presente e ir se transformando à medida que uma gradativa confiança se estabelece. A desconfiança inicial revela o temor de um novo abandono.” Orionte e Souza (2005 apud ALVARENGA e BITTENCOURT, 2013, p.42).

Sobre a perspectiva da formação de um novo vínculo afetivo, com a família adotante, os psicólogos que atuam nessa área devem ter cuidado durante o processo de ruptura dos vínculos antigos e o estabelecimento de novos vínculos entre a família adotante e a criança.

“Tratar de adoção significa tratar de vínculos estabelecidos consanguínea, jurídica e afetivamente. Adotar presume estar com um outro e relacionar-se afetivamente com esse outro, (...)” Oliveira & Próchno (2010, p.83).

Devemos considerar que tal discussão sobre essas questões complexas da construção e desconstrução do vínculo afetivo, envolvem muitos fatores a serem considerados e, buscar conhecer e compreender os impactos que a separação da criança da sua família original pode causar em seus vínculos afetivos é de grande importância para a ressignificação do nosso olhar sob essa população institucionalizada.

“Toda criança possui uma história genética e cultural transmitida pela hereditariedade e pelas vivências. Ao adulto cabe viabilizar um ambiente de facilitação para a maturação cada vez maior da criança, de acordo com as transformações desta ao longo do curso do ciclo vital. Em uma perspectiva ecológica, o desenvolvimento infantil depende do suprimento de um ambiente satisfatório, em que as necessidades individuais da criança sejam atendidas adequadamente.”Cuneo (2012, p. 417)

Maria Lúcia Pesce

Psicóloga Clínica

CRP 06/13.333

@psicologa.marialuciapesce




 
 
 

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