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Tipos de Mentiras

  • Foto do escritor: saudepsicofisica
    saudepsicofisica
  • 9 de ago. de 2021
  • 6 min de leitura

Os descaminhos da mentira. As sociedades atuais vivem um momento esdrúxulo, a mentira abre caminhos e ocupa espaços estratégicos. No Brasil, surge o flagelo das Fake News, desaparece o pudor diante da mentira e a palavra é banalizada juntamente com a imagem. Muito semelhante ao que aconteceu no início do 3º Reich, sob o protagonismo de Adolf Hitler, no ano de 1933, na Alemanha. Joseph Goebbels, braço direito de Hitler, ajudou a levar o nazismo ao poder como ministro da Informação e Propaganda, também foi propositor da frase: “Uma mentira contada mil vezes, torna-se verdade”. É o que muitos pensam, e só exteriorizam agora porque encontram eco em uma sociedade corrompida pela degradação moral. No passado, pessoas inescrupulosas convenceram os alemães que os judeus lhes roubavam a oportunidade de trabalho e de prosperar, portanto eram seus inimigos. Na Alemanha o nazismo provocou o Holocausto Judeu com nove milhões de mortos, no Brasil são mais de 555.318 mortes pela pandemia do Covid-19, com o protagonismo não só do vírus, mas também do descaso de órgãos oficiais de governo. Neste século a humanidade aprendeu que a mentira pode matar, precisamos refletir mais sobre os prejuízos causados pela distorção da honestidade e da decência, por este motivo escolhi discorrer sobre Corpo e Mentira.

A Mentira e Cotidiano, o pior dos defeitos. A desonestidade é repudiada pelas sociedades em geral, ninguém gosta de ser enganado, é humilhante e fere a confiança. Entre os piores defeitos de uma pessoa está a desonestidade implícita na mentira tóxica, porque remete à traição e coloca pessoas em risco. No entanto, todos nós mentimos, porém não admitimos. Conceitualmente a mentira é “uma tentativa bem sucedida, ou não, de levar uma pessoa a crer em algo que sabemos não ser verdadeiro”. Uma pessoa incapaz de mentir pode ser considerada estúpida, porque enfrenta problemas evitáveis. A nossa consciência dita o que dizer, temos senso crítico, se alguém pergunta “como estou?” devemos ter o cuidado de não ferir com a resposta, por isso respondemos: “você está bem”, ainda que não esteja. O mesmo acontece quando alguém hospitalizado, vítima de acidente, pergunta pelo companheiro que faleceu, a norma é espera que melhore para saber a verdade. Pensando bem, a convivência social seria impossível, caso não fossem os cuidados com a comunicação.

Tipos de Mentiras: Mentir ou omitir? São três os tipos de mentira, egoísticas, altruísticas e pró-sociais. As egoísticas são aquelas usadas para manter a máscara que esconde o que é verdadeiro, uma falsidade usada em benefício próprio. As altruísticas são usadas em benefício do outro e, por fim, as pró-sociais que beneficiam o autor e o alvo. O senso comum separa a mentira da omissão, como se não tivessem a mesma natureza, o que não é verdadeiro. Um vendedor de carros usados faz gambiarras para vender o veículo e esconde do comprador, dizendo que o carro está em ótimas condições. Em pouco tempo, o comprador percebe que foi enganado. A omissão e a falsificação são os dois polos da mentira, então omitir faz parte da mentira.

A Mentira e Ciência, Segundo David Lencas, “a ciência vê a mentira como um fenômeno comportamental, biopsicossocial orientado ao objetivo de obter vantagens ou evitar danos”. O cérebro humano é treinado a mentir, porque sem o treino não conseguiria, é desconfortável e trabalhoso elaborar algo que foge ao natural e espontâneo. Os animais são miméticos (aparentam, sem ser) por sobrevivência, transformam o corpo para parecerem iguais, maiores, mais fortes e mais perigosos, é o caso do baiacu, do camaleão, do gorila e muitos outros. Nós humanos não somos diferentes! A mentira é um traço evolutivo, portanto, não inventamos a mentira, este comportamento existe em várias espécies, na humana, ela se apresenta com maior sofisticação.

Subjetividade Visível e Mitomania: Quando o tema é a mentira, a pergunta mais comum é: como detectar? A mentira exige muito do corpo, altera os movimentos da pupila, a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos. O cérebro “não gosta de mentir” porque a mentira exige dele maior criatividade, mais rapidez, preparo na organização de ideias para evitar contradições. A pessoa que mente, exceto as mais treinadas, expressam alterações comportamentais ao mentir: hesitação no discurso, erros, fala lenta, exagero de pausas, repetições e outros agregadores, como: aumento nos movimentos das sobrancelhas e testa, inclinações de cabeça, esquivas no olhar, impaciência nos movimentos das mãos. O mentiroso desvia o peito, procurando ficar de lado, nunca de frente para o alvo da mentira, porque esta é uma posição de honestidade e franqueza. Quando a mentira foge ao controle e burla a consciência moral e ética, passando a ser uma constante no comportamento, estamos diante de um processo de adoecimento psíquico. A mitomania é a compulsão pela mentira, é consciente e tem por objetivo a autoproteção, em que a realidade é falseada para que sua percepção seja melhor ou suportável.

Como lidamos com a Mentira de crianças e adultos – Sempre buscamos estar certos, até estando completamente errados e, mesmo assim, temos justificativas. Somos cruéis com mentiras dos outros e condescendentes com as nossas, o que leva ao seguinte questionamento: será que desejamos 100% da verdade? Como chegaríamos ao final do dia com a honestidade radical? Provavelmente com muita mágoa, tristeza e decepção. A sociedade estaria sempre em conflito com a honestidade radical, porque ela é afiada e machuca! A honestidade empática parece ser a melhor saída para o impasse da honestidade radical, melhor ser o mais honesto possível uns com os outros, sem nos tornarmos escravos das expectativas alheias, e sem abandonar nossa conexão com compreensão e a compaixão. Nada é pior do deixar nossas expectativas de lado e viver sob a expectativa de outros, também não se aconselha a vida louca, mas sim cuidadosa. Além dos problemas da honestidade radical e empática, temos o autoengano, em que muitos optam por serem avestruzes: tipos de pessoas com tendência a ignorar informações potencialmente ruins, evitando o desconforto psicológico decorrente. Pessoas assim se irritam quando alguém lhes mostra a realidade de fatos, não é o que elas querem ver. Afetos são destruídos pela lança da sinceridade, com o tempo, caso a realidade seja vista sem falseamentos, o afastamento e o silêncio podem perdurar por vergonha.

A mentira infantil incomoda os pais, no entanto, a criança poderá estar apenas seguindo um exemplo familiar. Quando falar com a criança sobre honestidade e mentira esclareça bem a diferença entre uma e outra, também deixe claro o que se espera dela. O melhor é entender as intenções das mentiras, e se a criança sabia que mentiu, ao confrontá-la em uma mentira evitar a rejeição e a humilhação. Em geral, a criança mente buscando perfis que agradam mais, esperando um reconhecimento e uma aceitação não expressados. Na percepção da criança, todo o seu esforço parece nunca ser suficiente para satisfazer as expectativas dos pais. Uma criança retorna feliz da escola e conta aos pais que conseguiu tirar nota 7,0 em matemática, e se o retorno dos pais for: - “não fez mais do que sua obrigação, você só estuda!” - não haverá como manter o interesse no estudo. Todas as conquistas devem ser comemoradas e a criança tem o direito de se orgulhar de cada uma delas, sejam grandes ou pequenas.

A mentira do adulto também incomoda a todos, abala a confiança e gera dúvidas sobre a relação respeitosa que o mentiroso é capaz de estabelecer, sobretudo, se está consciente do mal que a mentira causa. Um mentiroso não pode ser negligenciado, deve ser ouvido na essência do que diz, sem julgamentos até o entendimento de seus motivos. A partir daí, é aconselhável expressar claramente a quebra de confiança, para não se passar por um manipulável ou vulnerável de plantão. A frequência da mentira estabelecerá a necessidade de ajuda, porque um mentiroso não muda por si mesmo. Para que a ajuda tenha efeito é importante que a pessoa que precisa, queira mudar. O hábito de checar os fatos é saudável, ao mesmo tempo, protetor da convivência, porque evita dissabores e resguarda os envolvidos das crises que a mentira causa. O diálogo, com o habituado a mentir, deve ser aberto e franco, sem agressões humilhantes, motivado apenas pelo apoio que todos necessitam e o prazer de estar junto, numa empreitada de construção positiva e coletiva.

Ser sincero sem ser estúpido ou chato – Antes de ser sincero verifique o que acontece na emoção, nas sensações de corpo e o que acontece na mente. Primeiramente emoções e sensações, depois a razão, porque aprendemos a racionalizar sem antes compreender, o que pode levar a erros. Lembre-se: Verdade e Sinceridade não são sinônimas. A sinceridade se relaciona à opinião de um indivíduo, a verdade vai ao encontro dos fatos. E o mais importante, cada um tem a sua verdade, segundo a ótica baseada em opiniões e visões dos fatos. Não sejamos românticos quanto ao assunto, é possível ser sincero e fazer o mal, assim como é possível mentir e fazer o bem. Finalizando, o respeito à verdade do outro pode garantir o respeito à sua verdade, subentendendo que só respeitamos o que conhecemos.


Maria Lúcia Pesce

Psicóloga Clínica

 
 
 

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