As Interações Sociais no contexto da Pandemia

Tem sido bastante frequente a abordagem das dificuldades de interação social no contexto da pandemia. As queixas no consultório envolvem desde os problemas em falar uma simples conversa como também a impossibilidade de manter vínculos com pessoas, até então pertencentes ao mundo social do indivíduo.

• Você tem se percebido com menos vontade de interagir com pessoas?

• Quais as reflexões que você faz a respeito e como tem lidado com isso?

• Afinal, apesar de tudo, a retomada da vida aos poucos tem seguido seu curso e a necessidade de realizar encontros presenciais?

Esse assunto tem se tornado um desafio para muitas pessoas.

Se pararmos para pensar, a pandemia trouxe uma série de emoções e de situações bastante intensas. Medos de contrair a doença, tristezas por perdas de pessoas queridas e de perda de renda financeira, raivas por atitudes negacionistas e irresponsáveis por parte de pessoas, essas são algumas das experiências emocionais que fazem parte do que vivemos. Obviamente, o impacto disso tudo em nosso mundo interno pode ter desencado processos depressivos, ansiosos, e estresses pós-traumáticos que, muitas vezes, também geram o aumento de sensações de negatividade, de baixa autoestima, de descrença em si mesmo e no mundo que nos rodeia, dentre vários outros sintomas.

A saída, às vezes adotada para a diminuição do sofrimento, é o isolamento. Contudo, nem sempre o que parece ajudar, funciona.

Isso por si só também reforça a ideia do isolamento como um lugar de refúgio. O problema é que refúgios são soluções temporárias e podem aumentar o vazio afetivo, gerando, a médio prazo, um empobrecimento na qualidade da saúde mental. Afinal, o ser humano é um ser social e sua estruturação psíquica também se dá pela qualidade dos vínculos afetivos que ocorrem em sua vida.

A psicoterapia tem sido um lugar bastante importante para que estas situações recebam o amparo mais do que necessário. Por ser um lugar livre de julgamentos, e poder expressar sentimentos e contrariedades por tudo o que ainda se vive, gerando um alívio mais do que imediato. Além disso, também se torna uma experiência onde, aos poucos, se resgata o aprendizado em poder ter a liberdade em dizer o que se pensa (ambiente sigiloso). Afinal, se "o inferno são os outros", cabe a cada um de nós o poder de estabelecer como iremos manejar com nossa necessidade de nos relacionarmos ainda que o contexto não seja dos melhores. Estarmos mais reforçados internamente irá nos ajudar em muito neste desafio.

Uma boa psicoterapia pode, inclusive, ser um campo de resgate de esperança e de confiança para voltarmos a acreditar em dias melhores. Pense nisso!

Maria Lúcia Pesce

Psicóloga Clínica

CRP 06/13.333

@psicologa.marialuciapesce