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A Máscara, A Empatia é o Acolhimento em tempos de Pandemia

  • Foto do escritor: saudepsicofisica
    saudepsicofisica
  • 20 de out. de 2021
  • 6 min de leitura

Os serem humanos ocupam o planeta em grupos, a necessidade de superar riscos concedeu aos humanos a certeza de que agrupados teriam maior possibilidade de sobreviver aos perigos do ambiente. Basicamente a organização social nasce pelas necessidades de sobrevivência. Em milhares de anos, a raça humana desenvolveu sua organização social, transformou espaços naturais em espaços sociais, criou formas de vida, ou seja, a cultura. Os grupos sociais se espalham pelo planeta e criam diferentes culturas, adequadas às exigências ambientais, as mudanças provocadas sobre o ambiente também modificam o homem, em relação recíproca. O mundo cultural humano é amplo e diversificado, mesmo assim, existem pontos comuns.

As características comuns aos grupos sociais que são: Organização do Espaço Social e Corporeidade; Territorialidade, Posse e Terra de Ninguém; Proxêmica, Rituais e Teatralidade. Este texto é dedicado a comentários sobre a Organização do Espaço.

Organização do espaço: das cavernas às vilas e cidades.

O corpo humano precisa estar próximo ao outro, sentir sua presença, trocar olhares e ideias, ser aceito, ou seja, ser parte no grupo, sendo ou não seu grupo de origem. A vida em grupo oferece maior segurança, confiança e coragem, porque faz surgir o senso de pertencimento. Por mais que a pandemia do Covid-19 (2019 a 2021) tenha exigido distanciamento entre as pessoas, nossa noção de identidade não foi perdida, tão pouco nosso sentido de pertença. Talvez seja esta a razão de estarmos conseguindo atravessar o período de tamanha crise social, política. Um exemplo: “Não estou só, fulano está com o mesmo problema que eu”: A constatação de que os problemas afligem um maior número de pessoas, acalenta a alma, serena a emoção, faz com que o sentimento seja o de ser parte de algo, traz tranquilidade. L. Karnal diz que falar das outras pessoas é necessário, seja falando bem ou mal, o “fuxico” sob este ponto de vista é uma questão de identidade. Segundo Karnal quando falamos “de alguém” com outra pessoa, estabelecemos um laço de uma amizade e cumplicidade, com ela, podendo ser este laço duradouro ou não. O falar sobre ou de outra pessoa é um hábito antigo, antes dos jornais impressos, pessoas faziam o papel de mensageiras, perpassando nas ruas, dando as notícias, em uma época bem anterior ao advento do celular. Uma senhora chamou a minha atenção, semanalmente ela passava falando alto pelo meio da rua, não gostava de ser indagada, tão pouco falava esperando retorno no que dizia, apenas dizia. As pessoas a consideravam “louca”, eu não a via assim. Tudo o que ela dizia tinha procedência, sua passagem semanal dava vida ao bairro, através dela sabíamos dos últimos acontecimentos. Esta senhora era importante para a manutenção do contato entre as pessoas do bairro, era a “liga” que nos mantinha conectados, muitas vezes orientando e prevenindo com suas informações. Toda localidade possui personagens folclóricos, são partes de uma especifica organização social,

A organização faz parte de nossa vida de forma extraordinariamente profunda e ampla, deste a organização que elaboramos ao fazer nosso prato de comida, até a organização de nossa estética corporal, dos nossos ambientes mais íntimos ao nosso ambiente compartilhado, o trabalho e o lazer. A organização dos espaços que ocupamos está diretamente relacionada ao mundo interior de cada um, se o mundo exterior for organizado, significa que a mesma organização predomina no mundo das ideias, desejos, sonhos e ambições.

Abro aqui um parenteses - Uma característica do acumulador compulsivo é a desorganização. A sensação, sendo procedente ou não, de ser abandonado faz com que se apegue a objetos que possam passar a ideia do “não abandono” - “pessoas abandonam pessoas, objetos não abandonam pessoas!.Neste caso, a organização do espaço deixa de ter importância na forma de pensar e agir das pessoas que se perderam em si mesmas. Não esqueçamos aqueles excessivamente organizadas, cujos objetos devem estar em seus devidos lugares sempre, perdem a linha de raciocínio quando notam algum objeto fora do lugar. O mesmo acontece com pessoas extremamente dedicadas à limpeza, quando recebem visitas, para elas um cisco no tapete é “um elefante na sala”. Enquanto não tiram o cisco do tapete, não conseguem dar continuidade ao assunto e dar atenção à visita.

Esta organização também reflete a maneira de ser de cada povo, ou seja, seus traços culturais.

Uso de máscara em família: Abrigo e Proteção

Os povos ocidentais organizam seus espaços familiares buscando acomodar os móveis no perímetro do cômodo. O que as organizações dos espaços têm em comum é a busca de abrigo, segurança e comodidade. A criança aprende a compreender a proteção como necessidade essencial no ambiente familiar.

Organização do espaço oriental – espaço familiar: O centro do cômodo é o espaço culturalmente escolhido para as tarefas cotidianas, os rituais e demais atividades familiares. Na cultura japonesa, a organização do espaço familiar busca o centro do cômodo, de forma a ficarem mais próximos no ambiente.

A aculturação, ou seja, a absorção de características de culturas diferentes, por mais abrangentes que sejam suas interferências, não apagam a raiz de uma cultura,.com sinais da influência ocidental.

Moradia, provisória ou não, sempre mantém o significado cultural: Abrigo e Proteção

Povos nômades habitam moradias provisórias. Por isso em geral a moradia é uma barraca ou tenda, algo que possam armar e desarmar quando necessário. Nômades também buscam o centro da barraca porque este é o espaço que lhes oferece maior segurança. Dentro e fora da cabana, o padrão cultural é a busca pelo centro do espaço.

A máscara – a construção de um hábito em conflito com o habitual

Não é habito brasileiro usar máscaras, o habito foi imposto por uma severa crise sanitária. Os japoneses usam máscaras a mais tempo do que os demais povos, sobretudo, os ocidentais. A máscara é um adereço normal e costumeiro do corpo, a consciência de que é preciso “proteger o outro” é muito mais presente na cultura japonesa do que no Brasil. Por si só a máscara se comunica, dá o seu recado, não somente entre nômades, pois encontramos todos os tipos de máscaras pelo mundo afora. A customização visa afastar os males, manter a doença distante e impedir a contaminação.

A máscara em tempos de pandemia. No início de 2020 percebi que as pessoas conhecidas, passavam por mim sem cumprimentar, o que me pareceu estranho! Descobri que sentiam dificuldade de reconhecimento devido à máscara, com o tempo a dificuldade foi sendo superada, porque a adaptação à máscara era (e ainda é) fator de sobrevivência, segurança e proteção. A falta de hábito faz do uso da máscara algo incômodo, dificultava a comunicação, porque entender o que o outro fala, não é apenas uma questão de ouvir, também de sentir, e sentir através da máscara parece ser mais difícil. Tenho observado que a comunicação pelo olhar recebe dimensão maior nesta pandemia, o olhar, enquanto instrumento de comunicação, está se transformando, agregando mais força expressiva. As pessoas conversam com os olhos mais abertos, mais fixos, em alguns casos até mais brilhantes.

Também tenho observado que arrumar a máscara parece ter se tornado um “tique”, sobretudo durante o diálogo, porque temos que falar e respirar ao mesmo tempo. A falta de jeito com a máscara parece dificultar a sincronia entre a fala e a respiração. Este não é o único motivo de arrumar a máscara constantemente. Agora são os olhos que carregam maior peso de significados da fala.

A máscara é sem dúvida um aviso de distanciamento, é funcional física e intencionalmente e, por isso, essencial à proteção contra contágios, tanto do usuário, como de outras pessoas. Mas o sentido da máscara vai além do simples aviso de distanciamento, o uso pode ser também sinal de cuidado com proximidades e comunicação, sinal de silenciamento e de rejeição a algo do entorno. Revendo os significados da máscara, me dou conta de estes parecem estar em frontal contradição com o que o grupo social precisa, a empatia e o acolhimento. Então porque conseguimos nos manter unidos com máscaras? Os olhos estão mais fortemente expressivos com o uso da máscara do que antes dela. É curioso como conseguimos ver o sorriso sob a máscara, vemos os cantos dos olhos enrugar e os músculos da lateral da face mexerem, rapidamente interpretamos estes sinais e sentimos o sorriso escondido. Isso acontece porque os olhos também sabem sorrir, abraçar, acolher, , ou Os olhos são afetivos, acariciam, compreendem e amparam. Em uma palestra, é comum o palestrante escolher um olhar acolhedor entre os participantes e nele ancorar-se, para sentir confiança e segurança.

Você já tinha observado esses fatores em relação ao uso da máscara?


Maria Lúcia Pesce

Psicóloga Clínica

CRP 06/13.333

@psicologa.marialuciapesce

 
 
 

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